A Evolução da Camisola do West Ham United: De 1895 aos Dias Atuais
I. Introdução
A camisola do West Ham United é muito mais
que um simples uniforme desportivo; é um símbolo que carrega mais de um século
de história, identidade e paixão. Desde a sua fundação em 1895, quando ainda se
chamava Thames Ironworks, até aos dias de hoje, o clube viu a sua indumentária
evoluir, reflectindo não apenas mudanças estéticas, mas também transformações
sociais, culturais e comerciais do futebol.
As cores claret (vinho) e azul, hoje
icónicas, nem sempre foram as oficiais, e cada mudança no design da camisola
conta uma história — seja a adopção de um novo patrocinador, a homenagem a um
herói do clube ou a resposta às tendências da moda desportiva. Este artigo
percorre essa jornada, desde os primeiros trajes rudimentares do século XIX até
às modernas peças tecnológicas da era Adidas, explorando como a camisola se
tornou um elemento central na identidade do West Ham e na vida dos seus
torcedores.
Ao longo desta narrativa, descobriremos
como factores como a industrialização, a globalização do futebol e até a
política influenciaram o visual do clube, e porque é que, mesmo após 130 anos,
vestir as cores do West Ham continua a ser um acto de orgulho e tradição.
II. As Origens (1895–1920): O Nascimento
das Cores
O West Ham United, tal como hoje o
conhecemos, nasceu de humildes raízes industriais. Em 1895, um grupo de
trabalhadores dos estaleiros Thames Ironworks, localizados no coração do East
End londrino, decidiu formar uma equipa de futebol que refletisse o espírito
comunitário e laborioso da região. O primeiro uniforme do Thames Ironworks F.C.
era tão prático quanto os homens que o vestiam: camisas de algodão
azul-marinho, calções brancos e meias azuis. Esta escolha de cores não foi
acidental — inspirava-se diretamente no clube de remo da fábrica, um desporto
então mais popular que o futebol entre os operários.
A transição para o West Ham United em 1900
marcou o início de uma nova identidade visual. Por volta de 1899, ainda como
Thames Ironworks, o clube adotou as cores que hoje são sinónimo da sua
essência: o claret (um vinho escuro) e o azul. A lenda mais difundida atribui
esta mudança a um desafio financeiro. Conta-se que o Thames Ironworks disputou
um amistoso contra o Aston Villa, um dos grandes clubes da época, e ficou tão
impressionado com o seu uniforme que decidiu adquirir um conjunto semelhante a
preço reduzido. O Villa, então campeão nacional, teria vendido os seus
uniformes usados aos londrinos, iniciando assim uma tradição cromática que
perdura há 125 anos.
Estes primeiros anos foram
marcados por uma simplicidade quase austera. As camisas, de mangas compridas e
gola alta, não exibiam qualquer emblema ou patrocínio — o brasão do martelo
cruzado só surgiria décadas mais tarde. Os tecidos eram pesados, absorviam a
chuva e o suor, e as listras (quando presentes) variavam em espessura conforme
a disponibilidade dos materiais. Num período
em que o futebol ainda se organizava, estes detalhes refletiam as limitações da
produção têxtil da era eduardiana.
Curiosamente, o West Ham quase abandonou as
suas cores icónicas nos anos 1910. Relatos sugerem que, durante a Primeira
Guerra Mundial, a escassez de tecidos tingidos levou o clube a considerar a
adoção de um uniforme totalmente branco — um plano abandonado por pressão dos
torcedores, que já viam no claret and blue um símbolo de resistência local.
Este episódio revela como, mesmo nas suas primeiras décadas, a camisola
transcendeu sua função utilitária para se tornar um elemento identitário, capaz
de unir uma comunidade em tempos de adversidade.
No final desta era, o West Ham consolidara
não apenas um nome, mas uma paleta de cores que o distinguiria para sempre no
universo do futebol inglês. O azul dos estaleiros fundira-se ao vermelho do
Villa, criando uma combinação única que, como veremos nos capítulos seguintes,
seria reinterpretada em infinitas variações — sempre mantendo viva a memória
dos operários que, num dia qualquer do século XIX, decidiram vestir a mesma
camisa para jogar uma partida após o turno na fábrica.
III. Consolidação da Identidade (1920–1960)
O período entre as duas guerras mundiais
marcou a transformação do West Ham United de um clube operário para uma
instituição com identidade visual consolidada. Se nas primeiras décadas as
cores claret and blue ainda eram experimentais, a partir dos anos 1920 elas se
tornaram indissociáveis da alma do clube — um processo que coincidiu com sua
ascensão à First Division em 1923 e a lendária participação na primeira final
de FA Cup no Estádio de Wembley.
A Padronização das Cores e o Nascimento do
Brasão
Nos anos 1920, o clube abandonou
definitivamente as variações ocasionais de listras ou detalhes em branco,
adotando um design limpo: camisas claret com mangas azuis, calções brancos e
meias azuis com detalhes vinho. Esta combinação, inspirada no Aston Villa mas
com proporções únicas, tornou-se tão distintiva que os torcedores passaram a
chamar o time carinhosamente de "The Irons" (Os Ferros), uma
homenagem dupla — tanto aos estaleiros de origem quanto à resistência das cores
que sobreviveram à escassez de materiais no pós-guerra.
O marco visual mais significativo desta era
surgiu em 1950: o icônico brasão com dois martelos cruzados. Desenhado pelo
técnico Charlie Paynter, o símbolo representava os trabalhadores dos estaleiros
Thames Ironworks (um martelo de ferreiro) e os estivadores do porto de Londres
(um martelo de aríete). A coroa sobre os martelos, adicionada em 1953 para
celebrar a coroação da Rainha Elizabeth II, reforçava a conexão com o East End,
então em reconstrução após os bombardeios da Segunda Guerra.
Inovações Técnicas e o Peso da História
Os anos 1940-50 trouxeram mudanças subtis
mas revolucionárias:
Tecidos: A substituição do algodão pesado
por misturas de lã e poliéster tornou as camisas mais leves — essencial para o
estilo de jogo rápido que o West Ham começava a adotar.
Cortes: As golas em "V"
substituíram as altas golas redondas da era eduardiana, refletindo a influência
dos uniformes militares usados por muitos jogadores veteranos de guerra.
Números: Em 1939, o clube foi um dos
primeiros a testar números nas costas das camisas em amistosos, antecipando uma
regra que só se tornaria obrigatória na liga inglesa em 1965.
A Sombra da Guerra e o Renascimento
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
interrompeu a evolução natural do design. Com o Upton Park convertido em centro
de defesa antiaérea, o clube disputou partidas improvisadas com uniformes
remendados — há registros de jogadores usando camisas com retalhos de tecido
azul retirados de cortinas. Paradoxalmente, foi este período de privações que
solidificou o afeto dos torcedores pelas cores do clube: em 1946, quando o
futebol profissional retornou, a demanda por camisas novas foi tão grande que o
clube precisou contratar costureiras locais para ajudar na produção.
Nos anos 1950, sob a direção de Ted Fenton
e com jovens como Bobby Moore surgindo nas categorias de base, o West Ham já
não era apenas um clube — era uma identidade visual completa. As crianças do East
End cresciam reconhecendo aquelas cores como parte da paisagem urbana, pintadas
nos muros dos estaleiros e nas bandeiras dos torcedores. Quando o clube
conquistou a promoção à First Division em 1958, o uniforme claret and blue já
não era uma herança emprestada do Aston Villa, mas uma bandeira própria, pronto
para brilhar na era dourada que se aproximava.
IV. Era de Ouro e Revolução Cultural
(1960–1990)
A década de 1960 marcou a
transformação do West Ham United de clube local a fenômeno global, e camisola West Ham United refletiu essa ascensão. Sob a luz do Estádio de Wembley, onde o
West Ham forneceu três jogadores para a seleção inglesa campeã mundial em 1966
— Bobby Moore, Geoff Hurst e Martin Peters —, o claret and blue tornou-se
sinônimo de excelência futebolística. Esta foi a era em que o uniforme
transcendeu o campo e penetrou no imaginário popular, misturando tradição e
rebeldia.
Os Anos 1960: A Era Moore e o Minimalismo
Elegante
O design da camisola de futebol nos anos 1960
encapsulava a filosofia do "futebol bonito" que Ron Greenwood
implantara. As mangas azuis ganharam proporções mais equilibradas, o vinho
tornou-se mais vibrante graças aos novos corantes sintéticos, e a gola em
"V" branca — inspirada nos uniformes da Copa de 1966 — acrescentou um
toque de sofisticação. Detalhes sutis faziam a diferença:
Brasão bordado: Pela primeira vez, o
emblema dos martelos cruzados foi costurado (e não apenas impresso),
simbolizando o status de elite do clube.
Tecido revolucionário: A adoção de
poliéster leve em 1968 permitiu movimentos mais fluidos, essenciais para o
estilo de jogo de Moore e companhia.
Sem patrocínios: Em contraste com outros
clubes, o West Ham manteve a camisola "limpa" até 1983, preservando
sua pureza estética.
Esta década também viu o nascimento de uma
tradição curiosa: após a vitória na FA Cup de 1964, os jogadores presentearam o
técnico Greenwood com uma camisa assinada por toda a equipe — o primeiro
vestígio do que hoje chamamos de "camisas de colecionador".
Anos 1970: Psicodelia e Protesto
A explosão cultural da década deixou marcas
no uniforme. Em 1972, o clube introduziu discretas listras verticais em
tonalidades variadas de vinho (um experimento logo abandonado por pressão dos
torcedores tradicionais). Mais significativo foi o uso político da camisola:
Protestos trabalhistas: Durante as greves
do setor portuário em 1972, jogadores como Billy Bonds exibiram camisas com
mensagens costuradas em apoio aos estivadores — antecipando as faixas de
capitão ativistas do século XXI.
Conexão com a música: A banda Iron Maiden
(cujo nome homenageia um instrumento de tortura medieval, mas também evoca o
apelido do clube) adotou as cores do West Ham em seus palcos, vinculando o
clube à cena punk rock londrina.
Anos 1980: Comercialização e Contradições
A década que trouxe o primeiro patrocínio
comercial ("Avco Trust" em 1983) também testemunhou experimentos
ousados:
Camisa alternativa de 1989: Um design
listrado em azul e grená, criado para o centenário do clube, foi tão polêmico
que os torcedores apelidaram o time de "West Ham Arsenal". A rejeição
foi tamanha que a camisa só foi usada três vezes.
Tecnologia: Em 1986, a parceria com a Umbro
trouxe o primeiro tecido "respirável", com microporos que reduziram o
peso da camisola em 30%.
Cultura das casuals: A subcultura dos
hooligans estilosos adotou o vinho e azul como cores de resistência urbana,
usando jaquetas de golf Pringle em tons combinando com as camisas do West Ham —
um fenômeno que elevou o clube ao status de ícone da moda de rua.
O Legado Cultural
Nestas três décadas, cada mudança no
uniforme refletiu tensões mais amplas:
Tradição vs. Inovação: A rejeição às
listras dos anos 1970 e 1980 mostrou o apego dos torcedores ao design clássico.
Futebol e Sociedade: Das greves aos palcos
punk, a camisola tornou-se veículo de expressão política e cultural.
Globalização Nascente: Mesmo antes da
Premier League, o West Ham já exportava sua identidade visual — em 1980,
torcedores japoneses fundaram o primeiro fã-clube internacional, reproduzindo
camisas artesanalmente.
Quando a década de 1990 chegou, trazendo a
revolução televisiva e a Premier League, o West Ham já carregava nas costas não
apenas um uniforme, mas um patrimônio visual pronto para conquistar o mundo —
uma história que continuaria, com novos capítulos de glória e
controvérsia, nos anos seguintes.
V. Modernização e Globalização (1990–2020)
O último decénio do século XX marcou a
entrada do West Ham United na era do futebol globalizado, onde a camisola
deixou de ser apenas um símbolo identitário para se tornar um produto de
consumo massificado. Este período de três décadas testemunhou uma tensão
permanente entre a preservação da herança visual do clube e as exigências
comerciais da Premier League — um equilíbrio delicado que redefiniu o
significado de vestir as cores claret and blue.
A Revolução dos Patrocínios (1990–2005)
A década de 1990 começou com um terramoto
visual: em 1993, o West Ham rompeu com 110 anos de tradição ao estampar o
primeiro patrocínio frontal na camisa — a marca de equipamentos eletrónicos
Dagenham Motors. Este acordo, inicialmente controverso, refletia a nova
realidade do futebol inglês pós-Copa do Mundo de 1990 e da criação da Premier
League (1992).
Os anos seguintes viram patrocínios cada
vez mais intrusivos:
1997–2003 (Dr. Martens): A icónica marca de
botas associou-se ao clube num movimento astuto, criando edições limitadas de
calçado nas cores do West Ham — o primeiro crossover entre moda urbana e
merchandising futebolístico.
2007–2010 (XL Airways): O logótipo da
companhia aérea ocupou quase 30% da frente da camisa, gerando protestos por
obscurecer as listras tradicionais.
Paralelamente, as parcerias com fabricantes
evoluíram da britânica Umbro (até 1999) para a alemã Puma (2000–2009) e depois
para a italiana Macron (2013–2015), cada uma imprimindo sua identidade:
A polémica camisa preta da Puma (1999): Um
design radical que substituía o azul por detalhes prateados, vendido como
"homenagem à herança industrial" mas criticado como excessivamente
comercial.
O retorno ao clássico com a Macron (2013):
Listras mais finas e tom de vinho mais escuro, buscando resgatar a estética dos
anos 1960.
Tecnologia e Personalização (2005–2015)
A globalização trouxe inovações técnicas
que transformaram a experiência de vestir a camisola:
Tecidos inteligentes: Em 2008, a adição de
fibras de carbono nas costuras melhorou a durabilidade; em 2015, a tecnologia
Coolplay da Adidas integrou zonas de ventilação estratégicas.
Personalização em massa: A partir de 2011,
os fãs puderam encomendar versões com nomes e números bordados a laser —
incluindo homenagens a ídolos como Paolo Di Canio.
Edições comemorativas: O 110º aniversário
(2005) trouxe uma réplica exata da camisa de 1895, despertando interesse de
colecionadores asiáticos e norte-americanos.
A Era dos Investidores e das Apostas
(2010–2020)
A chegada dos irmãos David Sullivan e David
Gold em 2010 coincidiu com patrocínios cada vez mais polémicos:
2013–2015 (Alpari): A parceria com a
corretora russa terminou em escândalo quando a empresa faliu, deixando os
jogadores a exibir um logótipo de empresa insolvente por meio ano.
2015–2020 (Betway): O acordo com a casa de
apostas gerou debates éticos, especialmente quando o clube lançou uma camisa
infantil com o patrocínio — posteriormente retirado após pressão de órgãos de
proteção à infância.
Este período também viu o clube lutar para
equilibrar tradição e modernidade:
Mudança para o Estádio Olímpico (2016): A
transição do mítico Upton Park para um estádio multifuncional exigiu
rebranding, incluindo camisas com detalhes em dourado para "conectar o
passado industrial ao futuro olímpico".
O dilema das terceiras camisas: Designs
como o "preto e rosa choque" (2017) dividiram opiniões — celebrados
pela geração millennial, mas vistos como excessivamente fashion pelos
tradicionalistas.
Globalização Cultural (2000–2020)
O uniforme tornou-se veículo de soft power:
Na música: O rapper britânico Stormzy
vestiu a camisa 2018/19 em seu show no Glastonbury, projetando o clube para
além do universo esportivo.
No cinema: Cenas de torcedores do West Ham
em Green Street Hooligans (2005) transformaram a camisa clássica num símbolo da
cultura casual mundial.
Mercados emergentes: Versões adaptadas ao
clima (como camisas de manga curta com proteção UV) foram lançadas para o
Sudeste Asiático e Médio Oriente.
Quando a década de 2020 começou, o West Ham
já não era apenas um clube de futebol — era uma marca global cuja camisola
carregava tanto o peso da história quanto as contradições do futebol moderno. O
desafio para a próxima década, como veremos no capítulo seguinte, seria
conciliar esse legado com as demandas por sustentabilidade e inclusão que
definiriam o futuro do desporto.
VI. A Atualidade (2020–Hoje) e Futuro
A década de 2020 tem testemunhado uma
reinvenção paradoxal do West Ham United: enquanto o clube consolida sua posição
na elite do futebol europeu, sua identidade visual navega entre o resgate do
patrimônio histórico e as demandas inéditas da era digital e ecológica. Este
capítulo explora como a camisola claret and blue está a ser reimaginada para o
século XXI — sem perder a alma que conquistou gerações.
1. O Retorno da Adidas (2023–Presente):
Nostalgia com Tecnologia
Em 2023, o West Ham anunciou uma parceria
multimilionária com a Adidas após 30 anos de afastamento — um movimento
estratégico que uniu passado e futuro:
Design inspirado nos anos 1980: A camisa
2023/24 revisitou as listras laterais da era Umbro, mas com cortes
aerodinâmicos e o brasão bordado a laser (eliminando costuras que irritavam os
jogadores).
Tecnologia Primegreen: Utilização de 70%
materiais reciclados (equivalente a 12 garrafas PET por camisa), alinhando-se
às exigências ambientais da Premier League.
Personalização digital: Através de apps da
Adidas, os fãs podem projetar versões virtuais da camisa para avatares em
metaversos — uma ponte entre os torcedores do East End e a nova geração global.
Este renascimento coincidiu com o auge
esportivo do clube sob David Moyes, incluindo a conquista da Conference League
em 2023 — quando o uniforme se tornou o primeiro do West Ham a ser exibido em
uma final europeia no século XXI.
2. Sustentabilidade e Ética: O Novo Front
As pressões por responsabilidade social
redefiniram a produção das camisas:
Fim dos patrocínios de apostas: Após
críticas de parlamentares britânicos, o clube anunciou em 2024 que não renovará
com a Betway (patrocinadora desde 2015), buscando parcerias com marcas de
tecnologia ou energia limpa.
Edição Zero Waste (2025): Lançada em abril
deste ano, esta camisa usa fibras de cânhamo e corantes vegetais — embora o
preço 40% mais alto reacenda debates sobre acessibilidade.
Logística verde: A Adidas passou a produzir
as camisas do West Ham em fábricas movidas a energia eólica na Alemanha,
reduzindo a pegada de carbono em 60% comparado à produção asiática.
3. O Dilema da Identidade em Tempos de
Globalização
A explosão de fãs internacionais
(especialmente nos EUA e Ásia após o documental Iron Men na Amazon Prime) gerou
tensões criativas:
Terceiro uniforme "Street
Culture" (2024): Um controverso design preto com grafites inspirados nos
muros do Estaleiro de Docklands, celebrado pela juventude londrina mas
criticado por puristas como "modismo sem conexão real com o clube".
Coleção Heritage: Em resposta, o clube
lançou em 2025 réplicas fiéis de camisas históricas (como a de 1964 da FA Cup),
fabricadas com técnicas artesanais — cada peça leva 8 horas de costura manual.
4. O Futuro: Que Cores para Próximas
Décadas?
Especialistas projetam três cenários para a
evolução do uniforme:
Realidade Aumentada: Camisas com QR codes
que ativam conteúdos exclusivos (treinos em VR, entrevistas com ídolos) —
testado em parceria com a Microsoft desde 2024.
Biotecnologia: Tecidos com microcápsulas
que regulam temperatura corporal, em desenvolvimento com a startup BioLabs UK.
Desmaterialização: Assinaturas digitais
para colecionadores de NFTs de camisas históricas, uma iniciativa polêmica que
divide a diretoria.
Conclusão Parcial: Um Uniforme em
Crossroads
Em 2025, vestir a camisa do West Ham é
simultaneamente um ato de tradição e vanguarda. Se nos anos 1990 a
comercialização ameaçou diluir a identidade visual, a atual década sugere uma
síntese possível: inovar sem apagar as camadas de história que fazem do claret
and blue mais que cores — um patrimônio afetivo. O desafio que se avizinha será
equilibrar esta equação delicada, onde cada escolha de design carrega o peso de
130 anos de expectativas.
VII. Conclusão
Ao percorrermos os 130 anos de evolução da
camisola do West Ham United, desde as rudimentares camisas azuis-marinho dos
operários dos estaleiros Thames Ironworks até às inovações tecnológicas e
sustentáveis da era Adidas, percebemos que cada linha costurada neste uniforme
conta uma história muito mais ampla que o futebol. A camisola claret and blue
transformou-se num palimpsesto — um documento onde se sobrepõem camadas de
identidade industrial, glória esportiva, resistência cultural e, agora,
responsabilidade ambiental.
1. O Uniforme como Espelho Social
A jornada do design reflete mudanças
profundas na sociedade britânica e no esporte global:
Era Industrial (1895–1920): As primeiras
camisas eram extensões do macacão de trabalho, simbolizando a dignidade
operária.
Pós-Guerra (1950–1980): A padronização do
visual coincidiu com a reconstrução nacional e o surgimento do futebol como
fenômeno de massa.
Era Digital (2020–): As camisas
inteligentes revelam um mundo preocupado com sustentabilidade e conexão
virtual.
O West Ham soube, como poucos clubes,
equilibrar tradição e adaptação. Quando em 2025 lançou simultaneamente uma
camisa feita de cânhamo e uma réplica artesanal de 1964, materializou essa
dualidade: honrar o passado sem fossilizar o futuro.
2. Tensões Não Resolvidas
Alguns desafios persistem:
Patrocínios vs. Autenticidade: O possível
fim da parceria com a Betway em 2026 reabre o debate: como financiar a elite do
futebol sem corromper sua identidade visual?
Globalização vs. Raízes Locais: O design
"Street Culture" de 2024 agradou a novos fãs em Tóquio e Nova Iorque,
mas será que o clube não está a diluir a conexão com o East End?
Luxo vs. Acessibilidade: Camisas
sustentáveis a £120 (como a edição Zero Waste) arriscam excluir as famílias
trabalhadoras que fundaram o clube.
3. Lições para o Próximo Século
Três princípios emergem desta análise:
A Cor como Âncora: Mesmo nas mudanças mais
radicais (como a camisa preta de 1999), o vinho e azul permaneceram como faróis
identitários.
O Design como Diálogo: Cada nova camisa
deve conversar com as gerações — os veteranos que viram Moore jogar e os jovens
que colecionam NFTs.
A Função Política do Uniforme: Desde as
costureiras de 1946 até os ativistas climáticos de 2025, a camisola sempre foi
um instrumento de afirmação coletiva.
Epílogo: O Que Vem Além do Horizonte?
Em abril de 2025, enquanto o sol da tarde
ilumina o Estádio Olímpico, um símbolo parece certo: a camisola do West Ham
continuará sua evolução, mas seu núcleo — a homenagem tácita aos homens que,
num dia qualquer de 1895, vestiram o mesmo uniforme para jogar futebol após o
turno no estaleiro — permanecerá intocável. O verdadeiro teste não será
tecnológico (realidade aumentada ou biotêxteis), mas filosófico: como manter
viva a memória daqueles operários num esporte cada vez mais distante de suas
origens proletárias?
A resposta, tal como a primeira camisa do
Thames Ironworks, está nas mãos daqueles que tecem não apenas tecidos, mas
significados. E nisso, o West Ham United já provou ser mestre por 13 décadas.
Nota Final: Este artigo foi concluído em
29/04/2025, data em que o clube anunciava uma parceria com o Museu de Londres
para expor 20 camisas históricas — prova de que sua evolução é agora patrimônio
da cidade que o criou.
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